A diferença que o pai faz
A figura paterna é uma influência fundamental na formação da personalidade da criança
Apesar do que a mídia diz, a figura paterna é fundamental para formar o caráter dos filhos. Deus é sábio e revelou isso quando determinou que a família deveria ser formada por um pai e uma mãe. Cada um dos pais dá sua contribuição para formar uma estrutura psicológica saudável (ou não). Alguns dados levantados por Josh McDowell e Norm Wakefield confirmam o impacto da influência paterna sobre o jovem:
- Um grupo de estudiosos comportamentais da universidade de Yale pesquisou o problema da delinquência juvenil em 48 culturas no mundo todo e descobriu que filhos criados sem a presença paterna têm maiores chances de se envolver com crimes;
- Um estudo realizado por 1.337 médicos que estudaram na Universidade John Hopkins entre os anos de 1948 e 1964 descobriu que existe uma íntima relação entre a falta de intimidade com os pais e problemas de saúde como hipertensão, doenças cardíacas, tumores malignos, transtornos mentais e suicídio;
- Outra pesquisa realizada na mesma instituição descobriu que as adolescentes que não conviveram com seus pais têm 60% mais chances de ter relações pré-conjugais do que as amigas que viveram com os pais, e
- Um levantamento feito com 39 meninas que sofriam de anorexia demostrou que 36 delas tinham em comum o fato de não manter um bom relacionamento com os pais.[i]
Qualquer educador sabe que a maior parte dos alunos rebeldes, que confrontam a autoridade escolar e são problemáticos na sala de aula, tem dificuldades de relacionamento com os pais. Ou essas crianças não chegaram a conhecer o pai, ou ele é ausente, morando ou não com a família. Existem exceções à regra, mas em geral a raiz da disfunção comportamental está na falta que a autoridade paterna faz. Na verdade, a reação da criança é um clamor por atenção e afeto ou é a atitude de alguém que não aprendeu a obedecer a uma pessoa mais velha.
Autoestima
É importante desenvolver a autoimagem positiva do adolescente. Isso o blindará contra a prática de muitos erros. Quando o jovem sabe o próprio valor, costuma não ser um carente emocional, e assim não busca desesperadamente a aceitação do outro. Ele é resistente à pressão do grupo. Evita namoros abusivos e relacionamentos com falsos amigos que se aproveitam da sua fragilidade para o colocar em problemas.
É sabido que existem cinco variáveis responsáveis por formar uma autoestima positiva no adolescente. Uma média de notas escolares altas tem impacto positivo sobre a forma como o jovem se vê. Outro fator que pode ajudar a fortalecer a autoimagem é um ambiente familiar acolhedor, que transmite segurança e conforto emocional, fazendo com que a pessoa se sinta amada. Entre os elementos mais importantes está também o fato de o filho passar bastante tempo com a mãe. Agora, no topo da lista, as variantes que mais influenciam na autoestima do jovem incluem passar bastante tempo de qualidade com o pai e, acima de tudo, ter um relacionamento achegado a ele.
Isso não quer dizer que o relacionamento com a mãe não seja importante. Contudo, os jovens parecem dar maior valor a um bom relacionamento com o pai do que com a mãe. Por que isso acontece? A mãe está sempre mais presente na vida dos filhos. Ela está sempre disponível para eles. O jovem espera que ela seja acessível, amorosa e esteja sempre pronta para ouvi-lo. Em geral, o pai é menos comunicativo e acessível. Ao contrário da mãe, o que ele faz parece ser muito importante. Então, entra em jogo a lei da oferta e demanda. Uma aura de importância cobre o pai, e o filho valoriza a atenção dele. Talvez por isso a obediência que os filhos prestam ao pai seja mais pronta e rápida do que a que prestam à mãe.
O perfil do pai que ama
As qualidades básicas que o pai precisa possuir para cumprir o projeto de Deus para a sua vida são as mesmas vistas na relação do Senhor com Seu povo. Ao elencarmos os principais atributos divinos que afetam nosso contato com Ele, podemos destacar:
Refúgio: Um dos atributos reconfortantes de Deus é a capacidade de ser acolhedor. O salmista faz referência a isso quando escreve: “Deus é nosso refúgio e a nossa fortaleza, auxílio sempre presente na adversidade. Por isso não temeremos” (Salmos 46:1, 2 [última parte]). Não importa o risco que o crente corra; ele não sentirá medo porque pode encontrar um refúgio seguro em seu Senhor e Deus. Ele é um abrigo no temporal, um porto seguro em um mar agitado. Assim deve ser o pai terrestre — alguém para quem o filho pode correr e em quem pode encontrar segurança. Não importa a idade de uma pessoa, em algum momento ela vai se sentir insegura e vai correr para o colo confortador dos pais, da mesma forma que corre para Deus.
Amizade: Apesar de Deus ser Deus, Ele deseja ter um relacionamento carregado de confiança com Suas criaturas. Ele deseja ser nosso amigo. Por isso, o salmista escreveu: “De manhã ouves, Senhor, o meu clamor; de manhã Te apresento a minha oração e aguardo com esperança” (Salmos 5:3). Deus está acessível a Seus filhos. Apesar da paternidade estar acima da amizade, as crianças esperam encontrar no pai um amigo. Dessa forma, querem poder contar tudo o que está acontecendo a eles sem serem julgadas. Esperam franqueza e a oportunidade de poder abrir o coração da mesma forma que encontramos apoio e amizade em Deus.
Sustentador: O Senhor Se apresentou a Abraão como Jeová-Jiré (o Senhor proverá, Gênesis 22:14). Deus nos sustém quando enfrentamos dificuldades na vida. O profeta Isaías escreveu: “Como pastor Ele [Deus] cuida de Seu rebanho, com o braço ajunta os cordeiros e os carrega no colo; conduz com cuidado as ovelhas que amamentam suas crias” (Isaías 40:11). O pai deve socorrer um filho da mesma maneira. McDowell & Wakefield comentam:
“Desde a mais tenra infância, reconhecemos nossa incapacidade, nossa fraqueza, nossa fragilidade. Podemos enfrentar as dificuldades da vida quando temos alguém em quem nos apoiar, confiar, encontrar força e buscar conselho. O que destrói as pessoas é elas serem vencidas pelos problemas, provações e dificuldades sem ter a quem recorrer para obter sustento emocional e espiritual.”[ii]
Companheiro: Deus está disposto a estar sempre ao nosso lado. Assim deve ser o pai: companheiro para as horas difíceis e de alegria. O amor dos pais transmite aos filhos segurança para si mesmo e o mundo ao redor. Em geral, os pais costumam fazer dez comentários negativos para cada um positivo. Para compensar o impacto sobre a autoestima das crianças, seria preciso falar quatro comentários positivos para cada negativo.[iii]
Presença: Podemos não perceber, mas Deus está sempre presente em todos os momentos da vida. Ele não nos deixa sozinhos. Jesus prometeu que estaria conosco todos os dias, até o fim dos tempos (Mateus 28:20). Os filhos amam a presença dos pais mais do que tudo na vida.
Disciplina: É difícil entender a disciplina como uma ação de amor. Mas Deus lança mão desse recurso para nos corrigir. A disciplina é uma prova de que Deus nos ama e Se preocupa conosco (veja Hebreus 12:5-11). Os pais não devem desistir de disciplinar os filhos. Ellen G. White lembra que “obediência aos pais no Senhor é a lição mais importante que os filhos devem aprender”,[iv] e isso deve ser conseguido com a disciplina. Disciplina é uma expressão de amor. Todo filho espera que os pais tenham princípios e ajam com firmeza na defesa desses valores. Ao fazer isso, transmitiremos a mensagem de que nos preocupamos com eles.
Perdoador: Deus é perdoador (Salmos 103:3). Pai é aquele que não guarda rancor e que está pronto a perdoar as falhas dos filhos. Todos estamos em crescimento e somos sujeitos a errar. Perdão é o remédio que cura todas as feridas surgidas nas relações pessoais.
Esses são alguns atributos que Deus espera que os pais desenvolvam para cumprir o papel que Ele definiu para os líderes da família. Poderíamos explorar outros aspectos, mas esses são suficientes para demonstrar o quanto o Senhor e a família esperam da figura paterna. Contudo, há um aspecto ainda que é preciso ser enfatizado: O pai é o líder espiritual da família, o sacerdote do lar.
O pai como sacerdote do lar
A sociedade dos tempos bíblicos era patriarcal, e as relações e papéis sociais mudaram muito daquela época para os nossos dias. Há, porém, alguns aspectos que são atemporais, como os que vimos anteriormente. Há também a questão da liderança espiritual da família. Neste ponto, o plano divino não mudou. Deus deu claras instruções aos homens que faziam parte do povo de Israel:
“Ouça, ó Israel: O Senhor, o nosso Deus, é o único Senhor. Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todas as suas forças. Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar. Amarre-as como um sinal nos braços e prenda-as na testa. Escreva-as nos batentes das portas de sua casa e em seus portões” (Deuteronômio 6:4-9).
Essa passagem descreve o papel do pai como líder espiritual da família. Sobre essa missão, Ellen G. White escreveu:
“Decidam os pais cristãos que serão leais a Deus, e disponham-se a reunir os filhos no lar consigo e assinalem os umbrais com sangue, representando a Cristo como o único que pode proteger e salvar, a fim de que o anjo destruidor passe por alto o feliz círculo da família.”[v]
Em primeiro lugar, é preciso que o pai tenha uma experiência pessoal com Deus para depois conduzir a família ao pé da cruz. O texto diz: “Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração” (vers. 6). Que palavras são essas? Segundo os versículos anteriores, são crer em um único Deus e amá-lO de todo o coração. No contexto maior, é importante destacar que Moisés já havia citado novamente os Dez Mandamentos no capítulo anterior. Em outras palavras, Deus espera que o pai seja um crente verdadeiro, autêntico e não apenas de aparência. Ele não pode dar aquilo que ele mesmo não tem. Isso é pecado. Ele precisa sentir um verdadeiro amor a Cristo e um sincero desejo de fazer a vontade de Deus para poder transmitir esses valores à sua família.
Para ser o sacerdote do lar, o pai precisa ensinar “com persistência a seus filhos” (vers. 7). O trabalho de evangelizá-los não deve ser acidental, esporádico, mas persistente. Alguns crentes imaginam que apenas colocando os filhos em um ambiente religioso será suficiente para que se tornem crentes. Basta que o filho assista aos cultos da igreja ou que esteja batizado, que a sua missão estará cumprida e que poderá descansar porque ganhou o filho para o evangelho. Infelizmente, não é verdade. O fato de o filho andar com crentes não faz dele um crente. O pai deve ser o mentor espiritual da família. Isso significa que deve tomar os filhos pela mão e conduzi-los a Cristo. Mesmo depois, deve continuar o trabalho de ensiná-los a ser cristãos, assim como faria com qualquer alma que quisesse se tornar cristã. Transformar os filhos em filhos de Deus é um trabalho de tempo integral, que exige esforço constante.
Para atingir esse objetivo, Ellen G. White aconselha: “O método mais bem-sucedido de conseguir sua salvação [dos filhos], e de conservá-los fora do caminho da tentação, é instruí-los constantemente na Palavra de Deus.”[vi] As Escrituras são o livro didático que devemos usar para instruir nossos filhos nos caminhos de Deus. Certa esposa de pastor comentou: “Meus filhos reclamam que o pai ensina a Bíblia para tantas pessoas, mas nunca lhes dirigiu um estudo bíblico.” O primeiro campo missionário do pai é a própria família, trabalhe esse pai na Obra de Deus ou não.
Por fim, o pai cristão deve aproveitar todas as oportunidades para falar de Cristo ao filho. É curioso que existam pais que se omitem desse papel alegando não querer interferir nas escolhas do filho. Quando crescerem, que os filhos façam as próprias escolhas. Eles não têm essa mesma atitude quando o filho quer abandonar os estudos, quando escolhe uma namorada que não agrada a família ou não quando demora a se definir profissionalmente. Se os pais se envolvem nas questões terrenas, por que não devem fazer o mesmo nas espirituais?
Moisés explica que todas as oportunidades são ocasiões perfeitas para apresentar o Deus que nos ama. Ele diz que quando estamos sentados ou andando, deitados ou em pé, todos esses são momentos para se falar de Cristo. Isso dá a ideia de um processo natural e casual. Se falamos de todo e qualquer assunto com os filhos, devemos ter a mesma atitude nas questões espirituais.
Referência bibliográfica:
[i] MCDOWELL, Josh e WAKEFIELD, Norm. A diferença que o Pai faz. São Paulo: Candeia. 1994, p.13.
[ii] MCDOWELL e WAKEFIELD, Op. Cit., p. 26.
[iii] MCDOWELL e WAKEFIELD, Op. Cit., p. 27, 28.
[iv] Orientação da criança, p. 224.
[v] O lar adventista, pp. 324 e 325.
[vi] Conselhos aos professores, pais e estudantes, p. 142.