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O PAI COMPANHEIRO

O pai deve se envolver nos planos e projetos dos filhos. E isso exige dedicar tempo – justo o que nos falta nesta vida corrida, agitada.

 A vida no século XXI é muito agitada. Nossa correria começa muito cedo, pela manhã, e vamos até a noite, preocupados com nossas responsabilidades e alvos, pensando em um novo projeto de vida, buscando uma promoção no trabalho, ou mesmo tentando dar uma vida mais confortável para nossa família: educação de qualidade aos filhos, casa maior e mais confortável, um carro novo... Tudo isso é importante, mas pode ser que estejamos nos esquecendo de algo muito mais significativo. Podemos perguntar às crianças: O que você quer do seu pai?

Esse pedido das crianças deve nos influenciar, como pais, a sermos companheiros dos filhos, dedicando tempo e atenção enquanto ainda são nossos. Eles logo vão crescer e seguirão o próprio caminho, levando consigo as experiências da infância. Suas recordações serão boas? Servirão de exemplo na educação dos próprios filhos deles? Em Deuteronômio 6:6 e 7, lemos o seguinte: “E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te.”  Esse texto destaca quatro momentos de companheirismo na família: sentados em casa, em atividades fora de casa, à noite, antes de deitar, e pela manhã, ao levantar. Esses momentos são oportunidades preciosas para o pai ensinar e, muito mais, para ser amigo dos filhos.

Quando falamos de “assentado em tua casa”, pensamos nas horas das refeições. Geralmente, as refeições são feitas às pressas, cada um no seu horário. Mas elas podem oferecer momentos alegres e divertidos se feitas em conjunto.

Quanto ao “andando pelo caminho”; o pai pode aproveitar atividades próximas à sua casa para levar os filhos, segurando as mãos deles e contando histórias educativas. Quando os filhos já são maiores, são os momentos de passeio, trabalho ou outras atividades que proporcionam momentos preciosos de companheirismo.

Vamos ao “deitando-te”. À noite, antes de dormir, os pais devem separar um momento para a devoção espiritual, oração e estudo da Bíblia, agradecendo pelo dia e pedindo a Deus proteção para a noite. Depois da devoção é o momento de saber como foi o dia, como foi na escola, de conhecer as alegrias e decepções e de dar orientações para a superação de qualquer dificuldade.

Finalmente vem o “levantando-te”. Ao acordar, é hora de a família novamente reunida agradecer a Deus pelo cuidado durante a noite e pedir proteção para o novo dia.

Esses momentos não podem ser negligenciados, pois terão muita influência na vida dos filhos, fortalecendo os laços de companheirismo entre pais e filhos.

Durante minha infância, as atividades do meu pai exigiam muitas viagens. Ele sempre se ausentava do lar e, mesmo quando não estava viajando, tinha muitas coisas para fazer. Mas lembro que meu pai sempre separava um tempo para os filhos. Íamos passear em lugares incríveis ou apenas ver o trem passar e contar seus vagões. Mas estávamos juntos, e era isso que importava.

Alguns pais não compreendem os filhos e não se relacionam com eles. Com frequência, existe grande distância entre pais e filhos. Se os pais soubessem os sentimentos e o que está no coração dos filhos, poderiam exercer maior influência sobre eles. Por isso devem estudar qual a melhor maneira de ganhar o amor e a confiança dos filhos a fim de conduzi-los pelo bom caminho.

As crianças gostam de ter companhia e raramente podem se divertir sozinhas. Anseiam por simpatia e ternura. Buscam mostrar aos pais aquilo que sabem fazer, esperando uma palavra de aprovação e incentivo. Querem sempre estar perto do papai, fazendo coisas divertidas. Porém, muitas vezes o pai está cansado, sem disposição para dar atenção aos pequenos. Talvez seja o horário de assistir às notícias, e ele não gosta de ser interrompido. Ao repelir um filho que lhe pede atenção, inconscientemente o pai está dizendo que não quer ouvi-lo. Ao chegar na adolescência, quando os conflitos parecem destruir qualquer esperança, os filhos sabem que o pai não pode lhes dar atenção e procuram os amigos para confidenciar seus problemas e procurar solução.

O pai deve incentivar o filho a confiar nele e desabafar, contando suas contrariedades e seus desgostos. Os filhos seriam poupados de muitas dificuldades se pudessem sempre confidenciar aos pais seus segredos. A cumplicidade que deve existir com o pai protegerá o filho das influências negativas de outras companhias.

Quando eu tinha cinco anos, ganhei de presente do meu pai um caminhão de madeira. Eu brincava dentro de casa puxando o caminhão da sala para o quarto, do quarto para a cozinha, nas viagens imaginárias de uma criança. Quando passei pelo armário da cozinha, descobri um monte de coisas que poderia usar como carga: caixa de fósforos, barra de sabão, pacotes de macarrão e tantas outras coisas que fizeram meus olhos brilharem. E meu pai assistia a meu trabalho de transportador. Um belo dia, ele nos colocou dentro do carro, a mim e meu irmão mais velho, e nos levou a uma serraria. Negociou com o dono pedaços pequenos de madeira, pontas que não seriam mais usadas, e nós levamos um monte para casa. Sabem para quê? Para fazer a carga do meu caminhão e deixar o armário da minha mãe em paz. Isso significou tanto para mim que nunca me esqueço. Meu pai viu do que eu precisava para brincar e fomos juntos buscar a solução.

O pai deve se envolver nos planos e projetos dos filhos. E isso exige dedicar tempo – justo o que nos falta nesta vida corrida, agitada. Mas se você não consegue tempo para os filhos, não devia assumir a responsabilidade de uma família. Privando seus filhos do tempo que lhes pertence por direito, você está roubando deles. Agora que você é pai, quase tudo fica em segundo plano. Os filhos são prioridade.

Imaginem esta cena: o garoto pergunta para o pai, enquanto este assiste ao noticiário: Papai, quanto você ganha em uma hora de trabalho? O pai estranha a pergunta, tenta enrolar o filho para não dizer seu salário, mas o filho insiste: É sério, papai, quanto custa uma hora do seu tempo? Pela insistência do filho, o pai faz mentalmente o cálculo e responde: Trinta reais. O filho sorri com a resposta e corre para o quarto. Depois de alguns instantes, volta com o pedido: Papai, me dá dez reais? O pai, desconfiando que o menino estava planejando comprar-lhe um presente, dá os dez reais que o filho pediu. O menino enfia a mão no bolso, tira várias moedas e notas pequenas e conta tudo na frente do pai. Suas economias somavam vinte reais e, juntando com os dez que o pai lhe deu, ele completou os trinta de que precisava. Empurrando tudo para o lado do pai, exclama: Pronto papai, aqui tem trinta reais. Estou comprando uma hora do seu tempo para você brincar comigo!

Não deixe isso acontecer com você. Não passe pelo constrangimento de ser cobrado pelos filhos a dedicar tempo para eles. Planeje momentos para ficar junto deles, caminhando, brincando, pulando, andando de bicicleta, soltando pipa, nadando, viajando, conversando, chorando, sonhando, abraçando, e tantas outras coisas legais que o pai pode fazer junto com seu filho. Seja companheiro deles.

Em Lucas 15:11-32 encontramos a história do filho pródigo. Esse rapaz resolveu sair de casa, pediu a parte da herança que achava ser direito seu e viajou para bem longe da casa do pai. Fez amizades nessa nova cidade e gastou todo o seu dinheiro em diversão. Quando ficou pobre, sem casa, sem dinheiro e sem amigos, numa vida miserável, lembrou-se do lar. Lembrou-se do pai. E resolveu voltar para casa. Seu pai era amoroso e companheiro. Era amigo e companheiro até mesmo dos empregados. A partir do verso 24, lemos assim: “Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai, e dir-lhe-ei: Pai, pequei contra o Céu e perante ti; já não sou digno de ser chamado teu filho; faze-me como um dos teus jornaleiros. E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou. E o filho lhe disse: Pai, pequei contra o Céu e perante ti, e já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o pai disse aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa; e vesti-lho, e ponde-lhe um anel na mão, e alparcas nos pés; E trazei o bezerro cevado, e matai-o; e comamos, e alegremo-nos; porque este meu filho estava morto, e reviveu, tinha-se perdido, e foi achado. E começaram a alegrar-se.”

O que motivou esse rapaz a decidir voltar para casa? O amor do pai, esse vínculo cultivado através dos momentos de companheirismo, das horas vividas juntos, da história em comum de pai e filho. Isso jamais será esquecido. Seja companheiro do seu filho e será pai para sempre!