Uma mulher segundo o coração de Deus
Seguir o plano de Deus para a mulher, em uma sociedade de valores anticristãos, é um desafio para elas
O papel da mulher no casamento tem sido deformado na sociedade moderna. Em nome da libertação da mulher do jugo patriarcal imposto pela sociedade, movimentos feministas têm defendido que ela deve priorizar a vida pessoal ao invés da familiar. O papel do homem no casamento também foi posto em xeque. Sua autoridade foi questionada e sua imagem e importância, enfraquecidas. A combinação desses fatores leva a nossa sociedade narcisista a pagar um preço muito alto: vidas frustradas, crianças problemáticas e casamentos desfeitos.
O mundo acredita que uma mulher bem-sucedida é aquela que tem uma carreira acadêmica e profissional de sucesso. A Palavra de Deus desafia as mulheres a dedicarem suas forças a outros objetivos, de ordem eterna e mais impactantes: ter uma família que seja um pedaço do Céu na Terra e desenvolver um caráter semelhante ao de Cristo. Ela pode conquistar tudo o que deseja, mas não deve descuidar do plano de Deus para a sua vida. Neste capítulo, vamos explorar um pouco o projeto de Deus para as mulheres. Não pretendemos esgotar o assunto, mas queremos apresentar os principais eixos norteadores desse plano divino.
Ela é a auxiliadora do homem
Quando Deus criou a mulher, explicou por que não era conveniente que o homem vivesse sozinho no mundo: “Não é bom que o homem esteja só; farei para ele uma auxiliadora que seja semelhante a ele.” (Gênesis 2:18, Nova Almeida Atualizada). O projeto de Deus para a mulher é que ela estivesse ao lado do marido, não como concorrente, mas como ajudadora, apoiadora. Ela não deve ser a cabeça nem os pés da relação; por isso, Deus a fez da costela do homem. Ela seria alguém que estaria próximo ao seu coração, ao seu lado. Ellen G. White comenta:
“Ao criar Eva, Deus pretendia que ela não fosse inferior ou superior ao homem, mas em todas as coisas lhe fosse igual. O santo par não devia ter nenhum interesse independente um do outro; e não obstante cada um possuía individualidade de pensamento e de ação.”[i]
Em essência, a relação entre a mulher e o homem deve seguir o padrão de comportamento que se espera de um seguidor de Cristo. Ajudar o próximo é a parte essencial do cristianismo. A esposa estará cumprindo seu papel na relação matrimonial quando se dispor a ajudar o esposo a desenvolver todo o potencial da família. Contudo, se mal conduzida, essa função pode ser desvirtuada e levar a mulher a um sentimento da baixa autoestima. Ela pode se sentir apenas um andaime ou degrau para o sucesso do marido. Por isso, no cristianismo Deus espera que o patrão seja servo do empregado, e o chefe sirva ao funcionário. Esse princípio se aplica a todas as relações pessoais, quer seja na questão de gênero (homem e mulher), classe social (rico e pobre) e étnico-racial (gentio ou judeu; veja Gálatas 3:28). Como crentes, nossas relações não podem ser contaminadas pelo espírito de dominação, de prestígio pessoal, de superioridade. Além disso, não é só a mulher que deve servir no casamento, mas o marido deve fazer isso, no Senhor. As relações familiares são uma extensão do nosso culto e serviço a Deus.
Quando a mulher assume o papel de auxiliadora do homem, não significa que ela deva renunciar a seus projetos pessoais. Ela não perde a personalidade e individualidade por isso. Ao nos criar, Deus colocou no coração do ser humano a necessidade de viver em comunidade, em grupo. A menor unidade de vivência humana é a família. Nada a substitui. O ser humano sente-se deprimido quando está sozinho, quando não comunga com outra pessoa. Precisamos de ajuda mútua. Essa cooperação é uma via de duas mãos, e se torna uma bênção tanto para quem dá como para quem recebe.
Quando a mulher falha nesse projeto divino, ela prejudica o marido e afeta a família. A Bíblia apresenta vários exemplos de mulheres que influenciaram o marido a errar nas escolhas que fizeram. Elas deixaram de ser auxiliadoras para se tornarem pedras de tropeço. Isso aconteceu com Eva quando seguiu o próprio coração, desobedecendo a Deus. Sua atitude influenciou o marido, que, temendo ficar sem ela, optou por desobedecer também. A esposa do rei Acabe, Jezabel, induziu-o a se afastar dos caminhos de Deus. Ela era uma zelosa missionária dos deuses pagãos do povo a que pertencia. A mulher de Jó, em vez de apoiar o marido e encorajá-lo, quis levá-lo a amaldiçoar a Deus e desejar morrer. Quando a mulher se desvia do projeto original de Deus, ela erra, e toda a família é afetada por isso.[ii]
Ela respeita o marido
No plano original de Deus, a mulher tem os mesmos direitos e deveres que o homem. Ela deveria governar o mundo da mesma forma que ele. Tanto um quanto o outro foram criados à imagem e semelhança de Deus (Gênesis 1:27, 28). Ela pode conquistar o mundo e se realizar tanto profissional quanto intelectualmente. Contudo, há uma diferença de função no relacionamento familiar.
Na dinâmica do casamento, o homem deve ser a cabeça assim como Deus é a cabeça de Cristo (1 Coríntios 11:2). Pai, Filho e Espírito Santo compõem a Divindade única que adoramos. Eles são um Deus em essência, mas três em personalidade. Apesar de serem eternos, imutáveis, oniscientes, onipresentes e onipotentes — portanto, iguais —, existe uma relação dinâmica entre Eles. O Pai envia o Filho à Terra para morrer pela humanidade. Enquanto esteve entre nós, Jesus buscou fazer a vontade do Pai. Nem por isso, Se sentiu menor. A mesma vontade de honrar ao Pai que havia em Cristo, deve existir na mulher cristã em relação ao marido. Paulo fala disso em outros termos em Efésios 5:22: “As mulheres sejam submissas ao seu próprio marido, como ao Senhor”. Observe que o apóstolo explica que a submissão da mulher ao homem deve ser “como ao Senhor”. A maneira como o cristão se dispõe a obedecer a Deus e seguir a Sua vontade deve ser o espírito da mulher na sua relação para com o esposo. Seria isso sinal de subordinação e dominação masculina? Não, longe disso, pois não é assim que nos relacionamos com o Todo-Poderoso. Estamos debaixo de Sua autoridade porque sabemos que Ele nos ama. Assim deve ser a relação entre o homem e a mulher.
A submissão da esposa ao esposo não era problema para os cristãos primitivos, mas é para a mulher cristã de hoje. Naquela época, a mulher valia pouco mais que um escravo. Ela era propriedade do marido. A oração ensinada pelo Rabi Judá Ben Elai (cerca de 150 d.C.) revela o valor social da mulher naquele tempo. Ele dizia: “Deve-se pronunciar três doxologias todos os dias: Louvado seja Deus que não me criou pagão! Louvado seja Deus que não me criou mulher! Louvado seja Deus que não me criou pessoa iliterata!”[iii]
A fé cristã rompeu com esse paradigma social e elevou a mulher a uma condição que era desconhecida naquele tempo: a de igualdade com o homem diante de Deus.
Apesar de defender essa igualdade de condição, as Escrituras não se esquecem de lembrar que para as relações familiares funcionarem é preciso que a mulher respeite o marido. Essa disposição de estar sujeito uns aos outros é um princípio básico do cristianismo (Efésios 5:21). Esse princípio não é uma via de mão única. A sujeição deve ser recíproca. Por fim, devemos estar todos debaixo da autoridade de Cristo.
Quando Deus ordena que as mulheres respeitem os companheiros, não está querendo dizer que elas devam ser dóceis, sem identidade, passivas ou dominadas por sentimentos de inferioridade. No casamento, cada pessoa deve ter sua função, mas os papéis devem ser desempenhados com amor.
Ela valoriza o conteúdo e não a aparência
A sociedade atual valoriza muito mais a aparência externa das pessoas do que seu interior. O ser humano hoje vale pelo que parece ser e não pelo que é. Essa também era a realidade da alta sociedade nos tempos do Império Romano. A diferença entre aquela época e os nossos dias estava no alcance desse fenômeno. Atualmente, essa cultura é massificada e atinge todos os estratos da pirâmide social. Parece que algumas das igrejas cristãs estavam sofrendo desse mal.
“Na igreja de Éfeso, algumas mulheres vinham para a adoração pública vestidas extravagantemente e usando joias caras. [...] A motivação delas era uma demonstração arrogante de riqueza ou sedução sexual.”[iv]
Paulo aconselha essas mulheres a refletirem sobre seus valores e atitudes com as seguintes palavras: “Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, porém com boas obras (como é próprio às mulheres que professam ser piedosas)” (1 Timóteo 2:9, 10). O grande apóstolo afirma que as mulheres devem ataviar-se com modéstia. Ele está querendo dizer que não havia nenhum problema se a mulher cristã se preocupasse com a própria aparência. O problema ocorria quando elas se esqueciam de cuidar do mundo interior e supervalorizavam o exterior, a aparência. Elas devem se cuidar, mas devem se preocupar em produzir “boas obras”.
O apóstolo Pedro dá um conselho semelhante às irmãs que viviam ao norte da Ásia Menor: “Não seja o adorno da esposa o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido ao incorruptível trajo de um espírito manso e tranquilo, que é de grande valor diante de Deus” (1 Pedro 3:3, 4). A mulher cristã deve valorizar o adorno interior. Para que não houvesse dúvidas quanto ao que havia dito, o apóstolo afirma que esse adorno era “um espírito manso e tranquilo”. A palavra grega traduzida por manso (praus) “refere-se à atitude humilde e gentil que se expressa como submissão paciente.”[v] Além disso, elas devem ser humildes. Era a mesma mansidão e humildade que havia em Cristo (Mateus 11:28, 29). Os cristãos em geral e as mulheres cristãs em particular devem ser tais qual seu Mestre. Elas não podem ser impacientes e irritadiças nem usar palavras duras e iradas. Elas precisam ter equilíbrio emocional no trato com o marido e com os filhos.
Ela deve ser uma boa dona de casa
A mulher cristã é fator determinante para criar um ambiente saudável na família. Ela tem o poder de transformar uma casa em um lar. Por isso, o apóstolo aconselha as viúvas jovens a buscarem um novo casamento, e que “criem filhos, sejam boas donas de casa e não deem ao adversário ocasião favorável de maledicência” (1 Timóteo 5:14). Ele escreveu também que as mais velhas devem ensinar as mais novas a “serem sensatas, honestas, boas donas de casa, bondosas, sujeitas ao marido, para que a Palavra de Deus não seja difamada” (Tito 2:5).
Irwin comenta que:
“A recomendação de que sejam boas donas de casa não é um punhado de palavras sem sentido – traz consigo forte significado. Paulo queria que as mulheres tivessem uma disposição doméstica, que amassem seus lares e se ocupassem com eles. Isso sugere que as mulheres devem orientar, dirigir suas casas, e não apenas mantê-las limpas.”[vi]
Para a sociedade moderna, isso parece anacrônico (fora de época). Era muito mais fácil dar esse tipo de conselho naquele tempo do que hoje. As mulheres tinham poucas oportunidades profissionais e comerciais. Isso mudou, pois não existem mais limites para a ascensão profissional delas. Contudo, o foco da mulher cristã continua o mesmo: formar um lar cristão. Não há sucesso profissional que substitua esse projeto divino. Uma construção espaçosa, com fino acabamento, bem decorada e confortável nem sempre é um lar. Quando um lugar assim se transforma num lar? Quando ela amar o marido e os filhos (Tito 2:4).
Existem dois extremos que a mulher cristã deve evitar. Um é se dedicar à carreira profissional a ponto de negligenciar a família. O outro, não menos perigoso, é de se preocupar em cuidar mais das coisas do que das pessoas. O projeto de Deus é que o centro de nossa atenção seja a família. Tanto um caminho quanto o outro transformará a vida da mulher numa frustração. O comentarista bíblico William Barclay escreveu: “O mundo pode existir sem suas reuniões e organizações; não pode existir sem os seus lares, e um lar não é lar quando a senhora do lar estiver ausente.”[vii]
Para ser uma boa dona de casa, a mulher precisa ser precavida quanto ao futuro. Segundo a Palavra de Deus, a esposa que se prepara para os tempos difíceis está livre de preocupações. A mulher cristã “quanto ao dia de amanhã, não tem preocupações” (Provérbios 31:25). Ela não está preocupada com o futuro porque se preparou no presente. Em uma sociedade de consumo, que faz as pessoas acreditarem que gastar é uma forma de ser feliz, ela separa parte dos recursos para quando o casal envelhecer.
Ser boa dona de casa significa priorizar o marido aos filhos na relação familiar. Nancy Van Pelt comenta que
“Embora o papel da mãe seja importante, o papel de esposa é, em alguns aspectos, mais importe e essencial. A mulher que confunde suas prioridades e coloca o filho antes do marido fará o esposo se sentir rejeitado. E um esposo insatisfeito pode desenvolver ressentimento em relação ao filho, que parece ter prioridade na vida da esposa. Esse tipo de esposa facilmente se distancia do companheiro e, muitas vezes, ‘substitui’ o esposo pelo filho. Ela também pode comunicar ao filho a frustração e a pouca estima que tem pelo marido. Isso pode fazer com que a criança desenvolva falta de respeito e até ódio pelo pai. Quando as mulheres procuram ser esposas antes de serem mães, enriquecem a vida do esposo, dos filhos e delas mesmas.”[viii]
Ela deve ser uma cristã comprometida
O quadro descritivo do papel da mulher na família não está completo se não destacar sua posição como membro do corpo de Cristo. Em outras palavras, ela precisa ser uma crente compromissada com o evangelho.
Como foi dito anteriormente, a mulher não tinha muitos direitos na sociedade do primeiro século, e no campo espiritual não era diferente. Os discípulos ficaram espantados com o fato de encontrarem Cristo conversando com uma samaritana pelo fato de ela ser mulher (João 4:27). Os rabinos nivelavam os direitos das mulheres aos dos escravos e das crianças. Tanto a mulher quanto o escravo e a criança não eram convidados para proferir a bênção durante a refeição. O Rabi Eliezer Ben Hyrkanos chegou a dizer que aquele que ensina a Lei à sua filha, ensina-lhe estultícia (Sotah 3:4). A conversão das mulheres era desencorajada. Os rabinos ensinavam que “antes fossem as palavras da Torá queimadas do que entregues a mulheres.” Contudo, Jesus não via as coisas dessa maneira. Ele tinha mulheres entre os discípulos (Marcos 15:40, 41), e elas chegavam a contribuir para o sustento do Seu ministério (Lucas 8:2, 3). A primeira testemunha de Sua ressurreição foram mulheres (Mateus 28:1; Marcos 16:1). Jesus resgatou a dignidade feminina e a igreja só seguiu o Seu exemplo.
As esposas são iguais aos maridos em seu relacionamento com Deus. A mulher tem aproveitado esse privilégio de duas maneiras. Primeiro, desenvolvendo vida espiritual saudável e buscando a semelhança com Cristo. Elas mantêm um relacionamento com Cristo através da leitura da Palavra e a oração. Segundo, Deus concede dons espirituais às mulheres para desenvolver ministérios que podem abençoar a igreja e o mundo. Quando o Senhor dá dons, não olha para o gênero, a posição social ou a origem étnica. O envolvimento delas no reino de Deus não é para concorrer com o homem, mas para edificar a Obra do Senhor.
Referênais bibliográficas:
[i] Testemunhos seletos, vol. 1, p. 412.
[ii] IRWIN, Elvin D. O plano de Deus para a família. Miami, Florida: Vida, 1986, p. 63.
[iii] BROWN, Colin (Ed.) em Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, vol. 3.São Paulo: Vida Nova, 1983, p. 217.
[iv] COUCH, Mal (edit.). Os fundamentos para o século XXI. São Paulo: Hagnos, 2009, p. 585.
[v] RIENECKER, Fritz e ROGERS, Cleon. Chave linguística do Novo Testamento grego. São Paulo: Vida Nova, 1995, p. 561.
[vi] IRWIN, Op. Cit., p. 64.
[vii] Citado por IRWIN, Op. Cit., p. 66.
[viii] PELT, Nancy Van. Como formar filhos vencedores. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2006, p. 141.