Boletins

A diferença que a mãe faz

Ser mãe é desperdício de potencial?

São conhecidas as belas palavras que Ellen G. White usou para descrever a missão da mãe:

“Existe um Deus em cima no Céu, e a luz e glória do Seu trono repousam sobre a fiel mãe enquanto ela se esforça por educar os filhos para resistirem à influência do mal. Nenhuma outra obra pode se comparar à sua em importância. Ela não tem, como o artista, de pintar na tela uma bela forma, nem, como o escultor, de cinzelá-la no mármore. Como o escritor, não tem de expressar um nobre pensamento em eloquentes palavras; nem, como o músico, de exprimir em melodia um belo sentimento. Cumpre-lhe, com o auxílio divino, gravar na alma humana a imagem de Deus.”[i]

O Movimento Feminista atual vê a maternidade como um empecilho para o desenvolvimento do potencial da mulher. O assunto não é muito discutido por ele, mas, segundo as seguidoras mais radicais, ser mãe é visto como uma imposição social de uma sociedade controlada por homens. Segundo elas, isso é usado como instrumento de dominação sobre a mulher. É claro que nem todas as feministas pensam assim, mas muitas acreditam nisso e veem com pena as mulheres que escolhem ser mães. A imagem negativa da maternidade tem afetado muitas mulheres cristãs, e elas têm se perguntado: “Não estaria desperdiçando minha vida sendo mãe? Vale a pena assumir a maternidade?”

Ter filhos pode se tornar uma desvantagem corporativa, uma vez que a mãe cristã vai ter que concorrer com homens e mulheres que escolheram não ter família, e que podem se dedicar integralmente à carreira. Suas colegas não vão precisar tirar licença maternidade e nem vão faltar porque o filho está com febre ou por causa de uma reunião na escola. Por isso, muitas mulheres adiam ao máximo a maternidade para poder conquistar primeiro um lugar no mercado de trabalho. Para as mulheres que querem seguir uma carreira e serem mães, os desafios são gigantescos. Elas sempre vão ter a sensação de que estão no lugar errado. Quando estão cuidando dos filhos, acham que deveriam estar trabalhando, e quando estão no emprego acham que têm se dedicado demais à profissão e gostariam de estar com as crianças.

A solução desse dilema está em estabelecer prioridades. As pessoas não trabalham só para poder se sustentar, mas também para deixar um legado. Você pode acumular riquezas e prestígio, mas quando selar seu destino, que marca você terá deixado no mundo? O pai — e principalmente a mãe —, pode fazer uma obra para a eternidade: formar o caráter de homens e mulheres que farão a diferença no mundo.

A visão bíblica sobre maternidade

A mulher cristã não deve se sentir culpada porque prioriza a família — e especialmente a educação dos filhos. Ela pode conquistar o mundo, mas sem perder de vista aquilo que realmente vale a pena. A sociedade moderna nos diz que alcançar a realização pessoal deve ser o principal objetivo da nossa vida, mas esquece que, quando buscamos ajudar os outros a se realizarem, conseguimos nos sentir melhor. Em nenhuma outra área isso é mais verdadeiro do que na relação que existe entre mãe e filho.

A mulher precisa ter certeza do que Deus espera dela e de como Ele considera sua missão. Ela precisa lembrar que a maternidade é uma posição honrada. Elvin D. Irwin cita as palavras de uma criança: “Acho que Deus não podia cuidar de todas as pessoas, então ele fez as mães para ajudá-lO”.[ii] É claro que há um erro teológico aqui, mas a fala revela a importância da maternidade. Sobre isso, escreveu Ellen G. White:

“A esfera de atividade da mãe pode ser humilde; mas sua influência, unida à do pai, é tão duradoura como a eternidade. Depois de Deus, o poder da mãe para o bem é a maior força conhecida na Terra.”[iii]

A obra da mãe cristã afeta a vida na Terra e alcança a eternidade. Segundo Paulo, para desempenhar sua missão, a mãe cristã precisa desenvolver quatro atributos: “Entretanto, a mulher será salva dando à luz filhos — se elas permanecerem na fé, no amor e na santidade, com bom senso” (1 Timóteo 2:15). A mulher cheia de fé contribui para a salvação dos filhos. Quando ela está cheia de amor, cria um ambiente familiar saudável que ajuda o filho a desenvolver todo o seu potencial. Se a mãe trilha o caminho da santidade, levará os filhos a ter uma noção do que significa ser cristão, e do certo e errado. Por fim, ao revelar bom senso, oferecerá aos filhos um padrão de comportamento que deve ser imitado quando eles mesmos tiverem de tomar decisões difíceis.

O caráter da mãe cristã

Segundo a Bíblia, para desempenhar seu papel como mãe, a mulher cristã precisa desenvolver algumas qualidades. Paulo enumera algumas delas quando escreve: “Assim, [as mulheres mais velhas] poderão orientar as mulheres mais jovens a amarem seus maridos e seus filhos, a serem prudentes e puras, a estarem ocupadas em casa, e a serem bondosas e sujeitas a seus próprios maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja difamada” (Tito 2:4, 5). A primeira qualidade que se espera da mulher cristã é amar seus maridos e filhos. É esse atributo que faz toda a diferença na vida dos membros da família. É ele que transforma uma casa em um lar. Ele se revela de diversas maneiras: quando a mãe cuida do filho que está doente, quando lava a roupa e prepara uma refeição, ao aconselhar o filho, preocupada com as decisões que ele está tomando, ou quando perde o sono enquanto o filho não chega. Ellen G. White escreveu que “religião é amor, e o lar cristão é aquele onde o amor reina e encontra expressão em palavras e atos de solícita bondade e gentil cortesia.”[iv]

Em seguida, Paulo afirma que as mães cristãs devem ser prudentes e puras, ou sensatas e honestas, como está na Almeida, Revista e Atualizada. Prudência (ou sensatez) é um valor importante na criação de filhos. Nesse caso, é o ensino pelo exemplo. Como a mãe cristã reage quando provocada? Muito mais do que palavras, nesse caso é a atitude que conta. O comportamento puro ou honesto é outro traço de caráter que a mulher cristã deve cultivar. Isso significa que ela evita a maldade e a carnalidade. Paulo aconselhou as mulheres a não darem “ao inimigo nenhum motivo para maledicência” (1 Timóteo 5:14). Talvez a pessoa imagine que isso seja muito difícil, mas não deve esquecer que estamos falando de alvo proposto. A nossa vida, como seguidores de Jesus, deve ser a busca desse tipo de ideal.

Para Paulo, elas devem estar ocupadas em casa. A Almeida, Revista e Atualizada traduz essa expressão como boas donas de casa. Antes de avançar é preciso lembrar que o apóstolo queria atingir as mexeriqueiras, que largavam a família e as obrigações domésticas para irem de casa em casa espalhando boatos.

Hoje em dia, muitas mulheres trabalham fora, quer por necessidade quer por escolha. Mas o cuidado do lar não precisa ser negligenciado. Aqui é necessário que se quebre um paradigma. As mulheres que nasceram por volta da década de 1970 ou antes, viam as mães dando conta de todo o serviço doméstico. Quem tiver idade suficiente para se lembrar verá a própria mãe servindo o prato do almoço ao pai. Naquele tempo, o homem sentava à cabeceira da mesa. Hoje, os tempos são outros, mas o paradigma continua de forma inconsciente em algumas mulheres. Os filhos e o marido devem aprender a ajudar a mãe a cuidar da casa. As tarefas devem ser distribuídas, e cada um deve fazer sua parte para tornar a vida da mãe mais leve. Afinal, ela cumpre dupla jornada. Assim, o princípio bíblico permanece. O cuidado do lar deve ser prioritário.

Elas devem ser bondosas. O mundo é cruel e as crianças são sensíveis a essa maldade que as cerca. Elas precisam encontrar carinho e apoio junto à mãe para aprender a lidar com as emoções e tribulações que irão enfrentar à medida que crescem. A bondade materna é um abrigo para a angústia dos pequenos.

Paulo retoma o assunto que havia abordado na epístola aos Efésios (cap. 5:22), que é a sujeição da mulher ao seu marido. No relacionamento matrimonial, tudo o que a mulher espera é ser amada; já os maridos querem ser respeitados. Quando não se segue esses dois princípios, o casamento corre risco de acabar em separação. A mulher que se sente amada no casamento estará realizada e satisfeita com a relação. O mesmo acontece com o marido. Ele estará satisfeito emocionalmente se o seu papel de homem for respeitado na família. Respeitar significa consultar o marido antes de tomar alguma decisão que afete a família. É conversar com ele para saber o que pensa sobre alguma questão importante. Isso faz diferença para o homem. Um casamento é uma parceria. Se a mulher quiser fazer as coisas do modo que acha ser certo sem consultar ninguém, seria melhor ter continuado solteira. Isso também vale para o marido. Ninguém é obrigado a se casar, mas, ao decidir contrair núpcias, deve renunciar à suposta independência. Casamento é compartilhar sonhos e lutar juntos por eles. É olhar na mesma direção.

Outros atributos

Ao aconselhar o jovem pastor Timóteo sobre como liderar uma igreja, ele afirma que as mulheres viúvas devem ser reconhecidas “por suas boas obras, tais como criar filhos, ser hospitaleira, lavar os pés dos santos, socorrer os atribulados e dedicar-se a todo tipo de boa obra” (1 Timóteo 5:10). Ele é bastante pragmático, pois descreve como elas podem praticar boas obras. Ele está aconselhando as viúvas a ensinarem as mais novas a cuidarem dos filhos. Essa troca de experiência é benéfica para a jovem mãe, que muitas vezes se sente insegura devido à inexperiência. Ser hospitaleira aponta para uma necessidade que havia na igreja daquele tempo. Essa missão devia ser compartilhada pelos anciãos da igreja local (cap. 3:2). Havia muitos missionários itinerantes que precisavam ser acolhidos. Encontramos um exemplo de mulher hospitaleira na irmã Febe (Romanos 16:1, 2). Atualizando as informações para a nossa realidade, as mães devem abrir a porta do lar para receber convidados que estejam precisando de ajuda, ou missionários e irmãos que estão de passagem. Por fim, Paulo fala da necessidade das mulheres de saber socorrer os atribulados. No caso das viúvas, elas deveriam supervisionar as demais irmãs nessa obra de ajudar quem está passando por necessidades. Essa obra é maravilhosa, e é o cristianismo colocado em prática. Lembra das palavras do apóstolo Tiago? “A religião que Deus, o nosso Pai aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas” (Tiago 1:27).

Além desses atributos citados por Paulo, a mãe cristã, em parceria com o pai, tem outro papel a desempenhar no círculo familiar: disciplinar. Isso faz parte das atribuições paternas e maternas. O sábio aconselha: “Ouça, meu filho, a instrução de seu pai e não despreze o ensino de sua mãe” (Provérbios 1:8).

Disciplinar os filhos não é uma tarefa muito agradável, mas é necessária. A mãe castiga os filhos porque os ama. “Quem se nega a castigar seu filho não o ama, pois quem o ama não hesita em discipliná-lo” (Provérbios 13:24). A criança que não conhece limites pode destruir a si mesma, mais cedo ou mais tarde. O jovem não disciplinado é um perigo para si e para as pessoas que estão à sua volta. O livro de Provérbios aconselha: “A vara da correção dá sabedoria, mas a criança entregue a si mesma envergonha a sua mãe” (Provérbios 29:15). Quando ele é educado a controlar os impulsos e a respeitar a autoridade dos outros, está melhor preparado para a vida e para a eternidade.

Conclusão

Neste estudo, não quisemos explorar todos os aspectos do caráter da mãe cristã. Apenas oferecemos uma visão panorâmica desse perfil. A mãe é o fator que liga os membros da família. Sobre isso, escreveu Ellen G. White:

“Em vista da responsabilidade individual das mães, deve toda mulher desenvolver uma mente bem equilibrada e um caráter puro, refletindo apenas o que é verdadeiro, bom e belo. Pode a esposa e mãe ligar ao coração o marido e os filhos por um amor incansável, demonstrando em palavras gentis e num comportamento cortês, que, em regra, será imitado pelos filhos”.[v]



Referência bibliográfica:

[i] O lar adventista, p. 237.

[ii] IRWIN, Elvin D. O plano de Deus para a família. Miami, Florida: Vida, 1986, p. 111.

[iii] O lar adventista, p. 240.

[iv] Ibidem, p. 94.

[v] Orientação da criança, pp. 67 e 68.